terça-feira, 13 de outubro de 2009

Clarice Lispector


"O que me acontecia?

Nunca saberei entender mas há de haver quem entenda.

E é em mim que tenho de criar esse alguém que entenderá.

É que apesar de já ter entrado no quarto, eu parecia ter entrado em nada. Mesmo dentro dele, eu continuava de algum modo do lado de fora.

Como se ele não tivesse bastante profundidade para me caber e deixasse pedaços meus no corredor, na maior repulsão de que eu já fora vítima: eu não cabia.

Embaraçada ali dentro por uma teia de vazios, eu esquecia de novo o roteiro de arrumação que traçara, e não sabia ao certo por onde começar a arrumar.

O quarto não tinha um ponto que se pudesse chamar de seu começo, nem um ponto que pudesse ser considerado o fim. Era de um igual que o tornava indelimitado.

Uma capacidade toda controlada me tomara, e por ser controlada ela era toda potência. Até então eu nunca fora dona de meus poderes - poderes que eu não entendia nem queria entender, mas a vida em mim os havia retido para que um dia enfim desabrochasse essa matéria desconhecida e feliz e inconsciente que era finalmente: eu! eu, o que quer que seja. "{A paixão segundo G.H. - Clarice Lispector}

2 comentários:

  1. Se definiu bem hein pequena.: matéria desconhecida, feliz e inconsciente!!
    Amo você
    beijinhos

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  2. Sou fã da Clarisse e da prima Christiella Rosa.

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